O feitiço que mantinha os recém-nascidos a salvo de qualquer mal na Marina Alta O feitiço que mantinha os recém-nascidos a salvo de qualquer mal na Marina Alta
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30 Março 2025 - 09: 00

A saúde pública era um assunto bastante complicado há um século. Especialmente no pós-guerra, quando a fome e a escassez de recursos assolavam grande parte da sociedade. Não foi à toa que crenças populares e remédios caseiros para combater doenças estavam na ordem do dia.

O Arquivo Municipal de Dénia, em «O olhar do arquivo n.º 71» compartilha um fato curioso sobre as músicas que os jovens cantavam após os batizados de recém-nascidos na época. Naquela época, o medo de que o bebê morresse cedo demais levou as famílias a realizar o rito cristão nas duas primeiras semanas de vida do recém-nascido. Entretanto, "a mortalidade infantil estava diminuindo no final das décadas de 50 e 60", observa o Archive.

Esse medo foi "internalizado" na sociedade e ficou evidente na canção popular que dizia "padrí pollós". O objetivo dos membros mais jovens era fazer com que os padrinhos do recém-nascido celebrassem a bondade que acompanharia a criança jogando doces e dinheiro na saída da igreja. As crianças que o entoavam rapidamente podiam acessar as oferendas lançadas ao ar e que eventualmente caíam no chão.

Segundo o Arquivo Municipal de Dénia, "a figura dos padrinhos, além do sacramento, era vista como um futuro apoio para o bebê" e especifica que, "os padrinhos, para serem bons, tinham que ter "possibilidades", simbolizadas pelos doces e dinheiro que jogavam aos jovens".

O curioso que a entidade dianense destaca é que a fórmula usada neste canto pode variar em cada município da Marina Alta. Sobre o que foi ouvido em Dénia, ele afirma que é pouco lembrado, embora tenham encontrado uma referência a ele. Este diz: "pai-galinha rico, que joga confits/ pai-galinha pobre, que joga garrofes..."

No entanto, o Arquivo inclui mais variantes que se distinguem por localidades:

  • Em Pego: "Padrí chickenós / nem um nem dois / o padrinho picolí / a madrinha picolina / se não jogarem geleia / o bicho vai morrer."
  • En Xàbia: "Padrí pollós / cames de gos / tireu confits / bons i bonics / tireu confitura / se não, a criatura é muito má."
  • Em Ondara: "Pai galinhas / com o rabo do cachorro / a madrinha com o bico / o padrinho com o bico / se não jogarem geleia / a criança morre."

Os seguidores do Arquivo Municipal de Dénia coletaram mais duas versões:

  • Em Beniarbeig: «Pardrí pollos / o rabo do gos / o padrinho picotí / e a madrinha picotina / se não jogam geleia / o bicho é mole».
  • Ou ainda em Pego: "Padrí pollós / nem um nem dois / o padrí Pegolí / a madrinha Pegolina / se não jogar geleia / a criança morrerá."

O que toda a compilação compartilha em toda a geografia da região é a "ameaça se não houvesse congestionamento", enfatiza o Arquivo, que "condenaria a morte da criatura". Parece macabro, mas ele aproveitou esse medo da morte do recém-nascido para lançar uma espécie de feitiço para obter uma recompensa. Caso contrário, o mal pesaria sobre o novo homem que veio ao mundo. Aqueles eram tempos diferentes, é claro.

*Você pode ajudar a ampliar esse repertório popular deixando nos comentários a versão e o município onde ela foi ouvida.

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